A chuva passou


Já escutei, "não te quero mais". Já escutei, "tô indo embora". Dói, como dói. Escutei do jeito frio, seco. Sem uma centelha de emoção, uma parede me chicoteando barbáries no meu coração. 

Num momento, o céu estava azul, o sol na sua  força iluminava radiante.  De vez em quando, o vento ameno batia no meu rosto. 

Em outro, o vento se transformou em ventania, o céu azul cedeu para nuvens densas, o sol perdeu a força radiante, recolheu-se. 

Olhei para o lado, olhei para outro, a fim de achar uma alternativa, uma saída... qualquer uma. Forças não havia. Um turbilhão de porquês azunclinavam minha cabeça. Afetavam minha normalidade.

Por que? O que fiz? Revisei em um lance nosso relacionamento, queria detectar a falha, talvez, detectando, pudesse corrigir, sei lá...

Havia uma faca penetrando meu peito, devagar, bem devagar. À medida que penetrava, o desespero ia se impondo. E à medida que não encontrava os porquês, exasperavam a dor. 

Ofegante quase tive um colapso, não respirava direito. Foi aí que a ficha caiu: não encontrei nada, porque não havia nada para encontrar. Não havia nada para corrigir. 

Em um relance, borbulhou os questionamentos: será que ela estava no mesmo estado? Será que ela estava tendo o mesmo chilique? Oras, será que, naquele mesmo momento, estava chorando por mim? E a resposta, a todas às minhas perguntas, era um estridente: Não. 

A ficha, então, caiu. 

Percebi, diga-se de passagem, em meio ao lixo emocional, que o sentimento que trago no  peito é meu. Eu inventei. Eu criei. Eu sou responsável.

Percebi que em nada adiantaria o colapso, não mudaria nada, e apenas quem perdia era eu. Exclusivamente eu. 

Percebi que não estava perdido, na pior das hipóteses, estava aberto às novas possibilidades. E o mais importante, apesar dos pesares, havia vivido... plenamente.

A vida, passei a entender, é composta de fases. Há início, meio e fim. É o ciclo natural das coisas.

 Por mais que fosse desagradável, ruim, ainda assim, é o ciclo natural das coisas. Respirei fundo! Disparei dois tapas no meu próprio rosto frente ao espelho, e decidi seguir o curso da vida. 

O sol apareceu trazendo vida. Às nuvens densas recuaram para dá lugar ao firmamento resplandecente.  

 A chuva passou.

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